"Foi com o desenvolvimento de tais mecanismos na moda que o vestuário tornou-se uma arte moderna. Ela começou a operar simbólica e alusivamente por meio de formas e ornamentos variáveis, usando suas próprias formas aplicadas e sugestivas em contraponto dinâmico aos contornos reais dos corpos. Desde então a moda tem feito isto, exatamente como a arte, entrando em acordo com as formas naturais para criar uma sequência vital em seu próprio meio. Mas na moda, é claro, parte do meio é sempre o indivíduo sofrendo a experiência da vida.
Simultaneamente e em harmonia com outras artes visuais, o vestuário veio para propor um programa ilusionista e tridimensional para o corpo vestido, um novo meio ficcional, uma forma poética, algo que carrega consigo verdades imaginadas que têm o status adicional de fatos relatados, um drama que se vale de atores vivos. O corpo propriamente dito tornou-se tema de ficção. As pessoas tornaram-se figuras e personagens, e não apenas membros de grupos. A moda inventou um vocabulário visual poético para demonstrar, mesmo de modo inconsciente, os temas sobrepostos e simultâneos de temporalidade e contingência, ou de localização social e personalidade, mas sempre nos termos sexualizados que são exigidos pelo corpo vivo, dele ou dela. O vestir competitivo passou a fundamentar-se nas mudanças sugestivas do contorno, cor, linha e proporção, todos relativos às formas corpóreas, e em uma malícia variável nas formas dos ornamentos, e não apenas no seu valor."
Anne Hollander - "O sexo e as roupas - A evolução do traje moderno"
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